terça-feira, 2 de novembro de 2010

Os invisíveis
Texto reflexivo sobre o filme que retrata o Massacre de Columbine

Uma escola é um universo heterogênio, onde facilmente se identificam as fragilidades de uma sociedade. Os jovens que lá estão são o reflexo de famílias desagregadas, de problemas sociais decorrentes da pobreza, da violência doméstica, das deficiências de caráter dos pais, da falta de orientação e muitas vezes da falta de amor dentro de seus próprios lares. Não estamos identificando a unidade familiar como o único responsável pelo insucesso dos filhos, mas como o início de diversos problemas que hoje nos afligem.
É interessante notar a preocupação dos pais com a colocação dos filhos no mercado de trabalho. O sucesso profissional para muitos é a chave da felicidade e da realização pessoal. Um exemplo disso é a exacerbada ansiedade dos pais em verem os filhos alfabetizados já com 5 anos, antes mesmo de iniciarem o ensino fundamental. Grande parte dos pais não se preocupa com os primeiros anos da criança na escola, optando inclusive por cursos pré-escolares mais baratos, afinal o brincar é visto como mera atividade recreativa. A fase pré-escolar passa a ser considerada por muitos como uma transferência de responsabilidade no olhar os filhos enquanto os pais trabalham.
Nota-se que o investimento pecuniário maior dos pais no setor da educação é no ensino médio e na faculdade. Mas e a educação infantil? Muitos daqueles que futuramente pretendem matricular seus filhos em boas escolas para a preparação para o vestibular, que garantirá as portas abertas das melhores universidades, não investem neste período, optando por escolas com menos estrutura ou mesmo por colocar a criança na escola somente a partir dos 6 anos (início do ensino obrigatório).
Mesmo aqueles que optam por um ensino de qualidade já na educação infantil, estão preocupados em manter desde logo um aprendizado eficiente do ponto de vista mercadológico. São poucos os que lembram que a personalidade da criança, que verdadeiramente determinará sua realização pessoal, é formada até os sete anos.
O resultado nos primeiros anos do ensino fundamental é de grande quantidade de crianças com hiperatividade, falha de processamento auditivo, déficit de concentração, inadequação social etc. Daí a migração para os consultórios médicos e para os psicólogos, para tentar contornar um problema que poderia ser evitado muitas vezes se os pais tivessem prestado atenção aos seus próprios filhos.
Quando os filhos são pequenos muitos não dispõem de paciência e tempo para gastar com os filhos, acompanhando e contribuindo para seu desenvolvimento emocional. A construção de um ser humano começa em casa, desde o desejo da concepção. O estar presente na vida das crianças é de suma importância para que sua auto-estima e segurança se desenvolvam adequadamente. A vida contemporânea, que exige dos adultos sucesso profissional para que possam ser supridas todas as necessidades materiais do indivíduo e de sua família, não pode roubar desta a atenção e o carinho dos pais. O conforto não garante a felicidade e a satisfação do homem enquanto ser humano.
A educação das crianças deve ser conjunta. De nada adianta a escola passar valores, que não são presenciados pela criança dentro de casa. O discurso teórico não é eficaz se não se vive aquilo que se prega. Daí a necessidade dos pais estarem a par da política da escola e permitirem que esta atue como parceira na educação dos filhos, que é obrigação dos pais.
A escola deve estar atenta ao que acontece dentro e fora de seus muros, afim de que possa garantir, além de educação, o bem estar de todos. Diariamente somos alvo de notícias que relatam a violência viva dentro das escolas. Para combatê-la, escola e sociedade devem atuar conjuntamente. Deve a escola promover atividades de integração entre pais, alunos e professores. Atividades de prevenção a violência como palestras e fóruns de discussão; atividades desportivas que envolvam as crianças e as desviem de eventuais vícios como drogas, bebidas e cigarro; atividades que proporcionem uma integração da escola com a comunidade, como festas, sábados esportivos, exposições abertas, arte, etc. A escola deve ultrapassar seus muros e invadir a comunidade. Deve ser aberta, funcionar como um espaço coletivo onde as crianças se sintam acolhidas e os pais tenham a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento de seus filhos e conhecer as outras crianças e suas respectivas famílias.
A qualidade do ensino é também importante, não se nega isso. Mas é mister que escola e pais observem as outras necessidades do ser humano e as respeitem, garantindo o desenvolvimento da Inteligência emocional da criança. Um adulto equilibrado e sensato é muito mais importante para a sociedade do que um profissional extremamente eficiente, mas com sérios entraves no relacionamento interpessoal.
Crianças e jovens precisam ser vistos como seres humanos e respeitados em todas as suas necessidades, principalmente nas que concernem em seu bem estar psicológico. O que acontece com freqüência é que as crianças e seus problemas são deixados para segundo plano como se fosse possível um problema curar-se por si mesmo sem qualquer intervenção externa. Não há cura sem atenção, o que ocorre muitas vezes é que os problemas se internalizam, juntamente com as ausências e omissões. A criança se cansa de gritar clamando por ajuda e se cala, introjetando tudo aquilo que a incomoda já que ninguém a vê. Vive então uma inverdade, não demonstra seus sentimentos, isolando-se em um mundo a parte, até que um dia a revolta aparece e todos ficam horrorizados com a reação “desproporcional” da criança que simplesmente se enfadou de ser invisível aos olhos de todos.

Fernanda Maria Lozano Monteiro Sanches
Licenciatura em arte

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