terça-feira, 2 de novembro de 2010

A escola mata a criatividade?
O atual sistema educacional, apesar de ter evoluído para uma educação mais humanista e menos tecnicista, ainda mantém uma estrutura pouco flexível. As avaliações continuam pouco diversificadas, não apontando o real desenvolvimento dos alunos frente à matéria estudada. É muito comum a valoração daquilo que foi transmitido por meio de provas objetivas, que não contemplam o que o aluno compreendeu sobre o assunto, limitando-se a uma resposta certa para questionamentos que muitas vezes resultariam em uma reflexão mais aprofundada e verdadeiramente indicativa de compreensão.
Muitas vezes o comportamento do aluno em classe e o fato de o mesmo estar dando o seu melhor não é levado em consideração, dando-se um peso maior a uma avaliação programada para determinado dia e horário. O que ocorre é que indicativos mais significativos de interesse e dedicação são preteridos em favor das velhas provas.
O próprio sistema de aprendizagem sugere uma uniformização rígida nas conhecidas redes educacionais, nas quais o material didático e a aplicação dessas atividades são determinadas sem levar em conta a realidade social da escola e da comunidade em que ela se insere. A igualdade garantida constitucionalmente não indica que todos devem ser tratados da mesma forma porque todos são, em realidade, diferentes entre si e devem ser tratados de maneira desigual na medida de sua desigualdade. Assim, o sistema educacional para ser efetivo deve levar em conta a diversidade dos alunos, quer no que tange a sua personalidade, quer no que diz respeito a sua formação sócio-cultural.
Atualmente, a escola tem por finalidade primeira a eficiência que o capitalismo exige das pessoas. Não se reflete sobre a felicidade das pessoas enquanto seres humanos, sobre a necessidade de cada um encontrar seu lugar na sociedade, mas apenas em proporcionar oportunidades de emprego e conforto financeiro,que, diga-se de passagem, também são importantes e necessários, mas talvez não primordiais ou mais importantes do que a satisfação pessoal. Aqui entra, por exemplo, a hierarquia das disciplinas, onde as exatas ocupam posição de destaque e as que tratam da pessoa como ser humano em si são relegadas a segundo plano, como educação física, filosofia e artes.
O interessante é perceber que são justamente essas disciplinas que permitem o desenvolvimento de um jovem questionador, crítico, capaz de entender a si mesmo e o mundo que o cerca. Porém, a preferência não está em formar pessoas capazes de julgar e modificar o que está errado a sua volta, resultando num mundo melhor, mas em criar pessoas eficazes, não necessariamente inteligentes, mas capazes de produzir.
Estamos cercados de pessoas com medo de se arriscar, porque são tolhidos na infância pelo conceito de certo e errado. Talvez seja por isso que a humanidade tenha poucos gênios e muitas pessoas imersas na mediocridade, no saber “livresco” e raso, com pouca opinião sobre o que é melhor para a comunidade. São todos educados para o individualismo, para a satisfação imediata de seus instintos primitivos, sem senso de coletivo.
É preciso repensar a educação no sentido de que se leve em conta as várias habilidades do ser humano, não privilegiando uma em detrimento das outras, mas levando em consideração todo o conjunto, a fim de que tenhamos profissionais que amam o que fazem, pais conscientes da educação dos filhos, cidadãos participativos, empresários que se importam com o bem estar social, líderes democráticos...
A transformação da educação e, consequentemente, da sociedade depende dessa conscientização. Cientes do que deve ser modificado, cada um deve iniciar a transformação dentro de casa, depois dentro da comunidade, dentro da escola, e assim sucessivamente, até que se opere uma verdadeira modificação social.
O professor de Arte, por exemplo, deve se conscientizar da importância de sua disciplina na formação de pessoas melhores, preparar-se para adaptar os conteúdos a realidade dos alunos, a fim de que esses vivenciem a arte e percebam sua importância como fator de evolução social. Os alunos, envolvidos pelo processo, levarão para seus lares a necessidade da arte e os pais que, a princípio relutantes, também serão influenciados e convencidos de que a arte é um importante instrumento de reação a opressão e aos absurdos da sociedade moderna. Então a comunidade se renderá aos jovens questionadores que transformarão para melhor a nossa sociedade.
Trata-se de árdua tarefa, que enfrentará muita resistência principalmente daqueles que não têm interesse em uma sociedade mais justa e igualitária. Estudar arte está muito além de se tornar um artista, pois não serão todos que contarão com a aptidão e a criatividade necessárias, é se tornar capaz de compreender-se e entender a relação entre o artista,a obra e o público,bem como o que essa relação representa para a sociedade. A arte é uma linguagem que não se pode calar.

Fernanda Maria Lozano Monteiro Sanches
Licenciatura em Artes

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